1.16.2013

Hunter x Hunter | Parte II



 Hunter Hunter | Parte II


“Uma folha preciosa do cale­ndário será perdida.
Os meses restantes irão sepultá-la em grande estilo.
Mitsuki que perdeu a oportunidade de participar
Perseguirá sozinho a sombra de Shimotsuki.”


  Esta é uma estrofe da previsão por poesia que o Nem de Neon roubado por Kuroro fez a Nobunaga, da Genei Ryodan. Parece estranho? Sem dúvida.
  Robert Frost sustenta que “a poesia é aquilo que se perde na tradução”, mas neste caso talvez não; de fato, não acredito que o Yoshihiro Togashi seja um grande poeta, mas sem dúvida se esforçou.
  É nestes termos, com esta ousadia que desenrola-se a segunda parte desta análise de Hunter x Hunter.





 York Shin




  Kuroro? Nobunaga? Neon? Quem são estes?
   Bom, Kuroro e Nobunaga são membros Genei Ryodan que se trata de um grupo de criminosos que massacrou a tribo Kuruta, a tribo de Kurapica. Quando disse antes que a motivação de Kurapica era clichê... Bom, era disso que eu falava. Kurapica busca vingança contra a Genei Ryodan pelo assassinato de seu povo. Há incontáveis histórias parecidas.

Mas há um ponto diferencial – Kurapika quer recuperar os olhos de seus antigos companheiros, roubados de seus corpos pelo bando de assassinos devido a sua tonalidade escarlate. O povo Kuruta é singular por apresentar coloração avermelhada em seus olhos quando sente emoções fortes e esta cor é considerada uma das mais belas do mundo, e portanto muito valiosa – naturalmente isso atraiu os criminosos até a floresta onde os Kuruta procuravam se esconder.
   E a Neon?
   Ela é filha de Ligth Nostrad, membro da máfia que contratou Kurapika como guarda costas para o Leilão de York Shin. O plano de Kurapika era ir até o leilão e recuperar os olhos de seus companheiros que sabia que estariam sendo leiloados lá e dar combate à Genei Ryodan, que soube por Hisoka que tentaria roubar o leilão.
  Este é claramente um arco de Hunter x Hunter voltado para a vingança de Kurapika e a maneira como ela se dá (ou não).

   Mas onde estariam Gon e Killua?
  Eles rumam para o Leilão de York Shin também, em busca de um jogo de vídeo-game chamado Greed Island, onde procuram obter pistas sobre o paradeiro de Ging, pai de Gon.
   O caso é que o jogo é caríssimo, e para aduirí-lo eles terão de bolar alguma estratégia para ganhar muito dinheiro e rápido.
   Esta é uma historinha paralela que o autor colocou ali, e que só vai ter real importância no próximo arco, afinal, York Shin é essencialmente sobre Kurapika.

  É incrível como este personagem impôs restrições a si mesmo para poder enfrentar o poder da Genei Ryodan, que é até agora o grupo de usuários de Nem mais poderoso que se viu (e que não perderá este status, não completamente). Para tanto, Kurapica impõe contra ele mesmo o seu próprio poder, sob o juramento que se só o usaria contra a Genei Ryodan. Desta forma ele consegue um poder que realmente faz frente ao grupo de criminosos.
    Mas uma coisa deve-se dizer: A  Genei Ryodan é muito legal! Sem dúvidas são os meus personagens preferidos! Todos são absurdamente fortes e com poderes que, somados, são imbatíveis. Ao contrário de outros grupos de criminosos que se vê em outros mangás, a Genei Ryodan é unida e trabalha em relativa “harmonia”. Conta com 13 membros, e seu símbolo é uma Aranha de 12 patas, que representam seus membros e o líder (a cabeça da Aranha). O líder é Kuroro, e ele tem, na minha opinião, o poder de Nem mais legal de Hunter x Hunter – trata-se de um livro onde ele guarda poderes que rouba de pessoas seguindo determinadas regras (isso é uma coisa sobre Togashi: ele AMA regras, e não se satisfaz se não as colocar em praticamente todos os poderes que cria), e que pode usar seguindo outras tantas regras. No tocante a criatividade de Togashi, preciso saudá-lo: com aparecimento de personagens mais poderosos e experientes na manipulação de Nem, ele mostra uma sorte impressionante de poderes muito criativos! Há quem manipule pessoa, emita balas de Nem através dos dedos, faça cópias perfeitas de coisas, materialize um aspirador de pó (?), além de Neon que prevê o futuro das pessoas por meio de poesia.


  O que difere esta história de vingança das outras por aí é que no final a vingança simplesmente não acontece. Kurapika, como poderia se imaginar, não é capaz de dar conta de todos os membros da Genei Ryodan e então parte para um plano mais modesto: tirar-lhes o líder.  Bom, isso ele consegue, mas os demais membros do Genei Ryodan têm planos para mudar isso...

   Se Hunter x Hunter fosse um mangá qualquer, certamente Kurapika conseguiria cumprir sua vingança com muita determinação e o poder da amizade, mesmo contra inimigos muito mais poderosos; mas o caso é que Hunter x Hunter não é assim, e com um pingo de realismo que falta aos outros mangás, consegue surpreender o leitor que esperava uma coisa já bem batida.

   Do outro lado desta mesma história, Gon e Killua se desdobram para adquirir o jogo no leilão. Este é o leilão de uma casa famosa de York Shin, e não como o Leilão do submundo mantido pela máfia que a Genei Ryodan saqueou. Diga-se de passagem, pode-se dizer mais umas palavrinhas a favor da tese de que o mundo de Hunter x Hunter é mesmo muito violento: o leilão do submundo que põe a venda produtos escusos e proibidos é mantido e protegido tanto pela máfia mundial como pela polícia, revelando a corrupção do poder público no universo que Togashi criou... bom, talvez isso não seja assim tão diferente do mundo que conhecemos...

   Em York Shin, Gon e Killua encontram Leorio e junto deste procuram maneiras de ganhar a soma necessária para arrematar o Greed Island – lançam mão de meios como queda-de-braço e venda de produtos adquiridos em feiras, mas a quantia necessária é demasiadamente alta e então eles pensam em algo diferente. Há uma recompensa oferecida pela máfia àqueles que capturarem os membros da Genei Ryodan, e desta forma os garotos se envolvem com a Aranha e acabam sendo capturados. Depois de muita negociação envolvendo Kurapika e a Genei Ryodan, uma troca de reféns (nada justa para o lado dos vilões) a dupla de garotos é resgatada e pode participar do leilão. No entanto, eles não têm dinheiro e precisam de um plano para conseguir o jogo. E aí Gon mostra um que também sabe pensar e que não é tão bobo quanto parece, um avanço muito bem-vindo das nuances do personagem que até então parecia um tanto raso.
   De posse deste plano, a dupla, Gon e Killua se separa mais uma vez de Leorio e Kurapika e parte para a tentativa de cumprir seu plano e entrar no Greed Island.



Greed Island




   Este é um arco bem interessante de Hunter x Hunter – diferente ao estilo de Togashi, que não se satisfaz fazendo apenas o básico de “lutinhas” entre personagens. Greed Island é um jogo de vídeo game no qual o jogador pode literalmente entrar caso saiba manipular o Nem e que pode morrer de verdade!
   O plano de Gon para entrar no jogo é o seguinte: Eles não precisavam comprar o jogo, bastava fazer com que o senhor que os adquiriu deixasse que eles jogassem. Contudo, há restrições (mais?!) para que um jogador possa ser admitido pelo senhor Batera (proprietário dos jogos), e então Gon e Killua precisam passar por um teste. Depois de algum treinamento a barreira do teste é vencida e os dois partem para dentro do jogo.

  Lá eles descobrem que a ilha onde o jogo se passa é muito parecida com o mundo real, e que os perigos também são bastante reais.
   De qualquer forma, partem para coletar s cards do jogo – basicamente, o jogo consiste em coletar todos os 100 tipos de cards diferentes; o primeiro a fazer isso vence. No entanto, os garotos t:em dificuldades a príncípio, pois ainda não dominam o Nem suficientemente bem para progredir dentro do Greed Island. Vendo esta dificuldade, Biske, uma mulher velha, mas com aparência de garotinha, resolve ensiná-los a desenvolver seus poderes de Nem.

  Este é, portanto, e até aí, uma arco de treinamento, onde o autor visa mostrar aos leitores como os personagens conseguiram ficar mais fortes, e isso difere da maioria dos mangás comuns onde os personagens de uma hora para outra ganham poderes sensacionais sem passar por nenhuma dificuldade (ou mesmo mostrar as dificuldades que tiveram). Gon e Killua aproveitam os ensinamentos de Biske para desenvolverem seus Hatsus (poderes) de acordo com seus tipos de Nem: Gon, por ser Intensificador escolhe um poder que consiste em um soco reforçado com Nem, além de poderes menores de Transformação (cortar) e Emissão (disparar uma bola de energia) e se baseia no princípio de Janken (Jokenpô). Do seu lado, Killua, um Transformador, resolve transformar sua aura em eletricidade para disparar correntes elétricas contra seus adversários.

  Mas fortes, eles conseguem avançar no jogo e despertam o interesse de um grupo de vilões (Bomber) que avança assassinando ou explorando outros jogares e roubando seus cards. Fica, portanto, iminente uma batalha entre os mocinhos e os vilões deste arco.

  Isso se intesifica quando Gon e seus amigos conseguem um card muito raro em uma disputa de Queimada. Isso mesmo, Queimada! Este é outra argumento a favor da opinião de que Togashi gosta de inovar em suas disputas. Usa não somente lutas e violência, mas esporte (embora bem violento). Esta é uma boa chance de ver Hisoka e os mocinhos lutando do mesmo lado. Hisoka está no jogo para buscar ajuda para Kuroro que perdeu seus poderes, além de estarem ali também os membros da Genei Ryodan.

  Para vencer o Bomber, Gon, Killua e Biske traçam um plano, mas é claro que mesmo Hunter x Hunter não consegue deixar de lado todos os clichês do gênero shonen e Gon, como protagonista acaba meio que abandonando o plano inicial em favor de uma iniciativa heroica e um arrombo de compaixão por todos aqueles que foram mortos pelo Bomber. Muito machucado, Gon sai vitorioso da disputa, valendo de sua força de vontade e uma boa dose de preparação, uma vez que o adversário era imensamente superior.



  Bom, acho que nem precisa dizer que os mocinhos vencem e conseguem todas as cartas para completar o jogo. Mas para que tudo isso?

  A recompensa por vencer completar os jogo é poder levar para fora da ilha três cards e usá-los no mundo real. Com certeza é uma boa recompensa, uma vez que os card do jogo são utilíssimos para diversos fins. Diga-se de passagem, Togashi soltou a imaginação para criar os cards, mas fica a impressão de que certos cards eram desnecessários, por motivos inconfessáveis...
   A conquista destes três cards pode levar Gon ao seu pai, que ele descobre durante a sua jornada que não está dentro do jogo. Gon e Killua voltam para o mundo real (há uma ressalva quanto ao “mundo real” e o “jogo”, mas isso é algo que eu vou deixar que o leitor descubra com a leitura do mangá) e ativam o card para encontrar Ging. O que acontece então os leva para sua nova aventura.



  Nestes dois arcos, Togashi começa de fato a explorar o universo que criou e suas particularidades. Vemos personagens mais bem desenvolvidos, poderes criativos e enredo mais coeso. Os dois arcos, mas sobretudo o de York Shin, mostram que um shonen pode sim ser muito bom, com história interessante, sem ter que apelar para pancadaria desmedida.
O caso é que a pancadaria volta no próximo arco, como veremos na Parte III da análise de Hunter x Hunter.

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